Classificação para que?
Classificamos objetos quando os aproximamos de outros por alguma razão, ou seja, por algum atributo comum a ambos. Com isso, nós os separamos de outros que deles diferem.
Portanto, classificar é aproximar elementos por alguma semelhança que escolhemos, é construir categorias. Ao classificar, criamos uma classe, formada por elementos com algum atributo comum a todos eles. E esse atributo comum gera um nome para aquele grupo. Os atributos que classificam são absolutos. As classes podem ser compostas por objetos, alimentos, pessoas, animais etc. Ou, ainda, as classes e categorias podem englobar conceitos, como substantivos, verbos ou adjetivos.
A estrutura lógica de classificação se desenvolve de forma gradual, em etapas sucessivas da infância até a adolescência. De inicio, a criança constrói seu primeiro conceito classificatório em contato direto com objetos. Pouco a pouco sua necessidade de elementos concretos diminui e, quando adolescente, será capaz de construir esquemas abstratos de classificação.
Podemos estimular esse brincar na escola não como um conteúdo a ser ensinado, mas como uma habilidade a ser desenvolvida de forma progressiva e constante, adequada ao nível de desenvolvimento. Classificar não se ensina, estimula-se.
Nível das coleções figurais
Apresente alguns blocos coloridos com formas geométricas para uma criança do nível pré-operatório, de três a quatro anos, e peça que ela deixe juntos aqueles que achar parecidos. Você pode imaginar que ela os vá organizar por cor ou forma. No entanto, para sua surpresa, ela compõe figuras: uma casa, um robô, uma pipa. E fica feliz da vida achando que fez algo espetacular.
Então, você muda de material. Coloca diante da criança certa variedade de frutas e pede novamente para que ela deixe juntas as que se parecem. Agora imagina que ela vai juntar laranja com laranja, banana com banana, e assim por diante. Mas, para sua surpresa ela reúne todas e diz que montou uma cobra ou um palhaço, ou qualquer outra coisa de seu imaginário. Será que ela não reconhece as laranjas para deixá-las juntas? Claro que reconhece! No entanto, escolher criar imagens de figuras. Para ela, o que mais se destaca nesse nível é o aspecto figurativo daquilo que é capaz de construir. Com suas escolhas, essa criança esta sinalizando que se encontra no nível das coleções figurais. Mas ela só mostra isso se você a deixar livre, sem ficar dizendo onde tem de colocar cada objeto.
Uma criança no nível pré operatório, com até três ou quatro anos, provavelmente fará classificações formando figuras, pois para ela cada objeto é considerado o complemento da figura que está imaginando. Um triângulo será um excelente chapéu, um circulo será um rosto, um retângulo será o corpo. Deseja criar histórias. Essa é uma atitude própria da inteligência pré-operatória: o cenário. E cada elemento será uma parte desse cenário. Nessa fase, a relação entre as partes é elemento-elemento.
Nível das coleções não figurais
Nesse nível, as coleções são constituídas em função das semelhanças, ou seja, a criança aproxima os elementos por atributos ou características comuns a todos. É um progresso em relação ao estagio anterior. Agora, se você lhe pedir que aproxime objetos parecidos, ela poderá organizá-los por cor, forma tamanho etc.
Nas coleções não figurais, a relação entre os elementos já é elemento-classe, pois a criança consegue nomear o atributo comum e dar nome á sua coleção. Tomemos uma cesta com algumas frutas diferentes. Com certeza, a criança desse nível será capaz de dizer que se trata de uma cesta de frutas, porque ela já consegue dar um nome só a esse todo. De quem é o nome “frutas”? Não é de nenhuma fruta especial, é o nome desse todo! Ou, com segurança, será capaz de organizar vários objetos por semelhança e dar os nomes de cada grupo, por exemplo, cadernos, brinquedos, roupas.
Essa capacidade de dar um nome único a um todo é extremamente importante. Por volta dos cinco anos, as crianças estão ingressando no nível da coleções não figurais. Isso ocorre de maneira progressiva, e, quando se sentem mais livres, menos dirigidas, elas podem ainda mostrar atitudes do nível anterior. Permanecem no nível das coleções não figurais ate perto dos nove anos. Desenvolvem a capacidade de dar um nome a um todo, com base nas características ou atributos comuns que observam entre os elementos daquela coleção, daquele todo.
Você deve estar pensando: “É claro que o nome e do grupo todo. E daí?” aguarde só mais um pouco que logo compreenderá a importância desse “nome do todo”.
Lembre-se: nesse nível, a relação entre os objetos é elemento-classe. Cada elemento pertence a uma determinada classe, e a criança é capaz de identificar quando um elemento não faz parte do grupo ou coleção. Por exemplo: um boneco não faz parte de uma coleção de figurinhas.
Nível da classificação operatória
Esse nível só é atingido com a aquisição da reversibilidade e da capacidade de perceber inclusões hierárquicas. É quando uma criança consegue identificar classes e subclasses nelas contidas. Isso implica a habilidade de utilizar corretamente os quantificadores “todos” e “alguns”.
De saída, isso parece simples. Você dirá que qualquer criança, usando uma cesta para colocar todas as frutas, um prato dentro da cesta para colocar todas as laranjas e uma pires sobre o prato para colocar só as laranjas-lima, conseguirá fazer essa classificação.
Mas será que ela consegue compreender e verbalizar que “todas” as laranjas-lima são “algumas” das laranjas, devido ao fato de existirem laranjas que não são laranjas-lima? Ou que todas as laranjas são frutas embora existam frutas que não são laranjas?
A classificação operatória implica compreender que “todos” os elementos de uma subclasse podem ser “alguns” de uma classe em que estão incluídos. Isso pressupõe que a criança seja capaz de realizar inclusões hierárquicas, ou seja, reconhecer classes encaixadas sucessivamente umas nas outras. Agora, as relações acontecem entre classes e subclasses.
Bibliografia
RAMOS Luiza Faraco, Conversas sobre numeros, açoes e operaçoes, São Paulo / Ática 2009. Pg 18