Numerização
Numerização

A aprendizagem, seja da escrita, seja do número, processa-se em uma relação interativa entre a criança e a cultura em que ela vive, uma vez que ela interage com inúmeros agentes mediadores desse processo.

Numerização é um termo atribuído à aprendizagem dos números em sua correlação com suas respectivas quantidades, por analogia com a alfabetização. Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código (alfabeto) e a habilidade de utilizá-lo para ler e escrever. Numerização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código numérico (algarismos) e a habilidade de associar esses números a quantidades, assim como de lê-los, compará-los fazer operações com eles e posicioná-los numa seqüência.

 

Seqüência numérica

Observe a apresentação da seqüência numérica abaixo, que se inicia no zero, ou seja, na ausência de quantidade, e segue progressivamente na estrutura “igual mais um”. Cada número tem um antecessor (um vizinho de antes) e um sucessor (um vizinho de depois), exceto o 0, que so tem sucessor, considerando o conjunto dos números naturais.

 

O número “1” representa uma quantidade e ocupa um único lugar.

 

 

0        1        2        3       4        5       6         7

l____l____l____l____l____l____l____l__.... 

 

 

 

O número “2” representa uma quantidade e ocupa um único lugar.

 

       0        1        2        3       4        5       6         7

       l____l____l____l____l____l____l____l__....  

 

O número “3” representa uma quantidade e ocupa um único lugar.

 

          0        1        2        3       4        5       6         7

          l____l____l____l____l____l____l____l__....  

 

A classificação é a estrutura que consolida o caráter cardinal do número e a seriação é a estrutura que consolida o caráter ordinal do número. Cada número representa uma quantidade e ocupa um único lugar na seqüência numérica. Em função disso, Piaget diz que o número é a síntese da classificação e da seriação.

 

O corpo aprende

As atividades corporais, bem como os matérias devidamente adequados à construção de cada conceito, estimulam percepções táteis, visuais e auditivas, gerando uma memória sensorial, e esta armazena informações captadas pelos cinco sentidos, segundo a psicologia cognitiva e a psicomotricidade.

Vivenciar jogos e atividades que envolvam regras e comandos colabora para que a criança se discipline e organize seu pensamento e suas atitudes.

Expressar verbalmente o que vivenciou a estimula a explicar, do seu jeito, as suas experiências, o que descobriu e a conclusão a que chegou.

Representar sua vivência de maneira espontânea, em dramatizações, desenhos ou colagens, expressando o que foi significativo, estimula a criatividade. Registrar é uma maneira de documentar a história das aprendizagens e descobertas. A socialização dessas representações promove a diversidade, pois as crianças terão contato com variadas formas de expressão.

É importante diversificar situações e materiais, para que as descobertas. Em vez de ficarem associadas a um único referencial, sejam reconhecidas e identificadas em  múltiplas situações. Posso partir de atividades corporais, depois utilizar matérias concretos sem estruturas – como sucata – ou estruturados – como o material dourado, de base 10, criado pela educadora Maria Montessori, que representa as quantidades de formas geométrica, como veremos adiante -, e outros. Com relação a materiais simbólicos, como dinheiro ou fichas com valores determinados, é melhor que sejam utilizados com crianças a partir de oito anos.

A linguagem matemática pode ser vista pela criança como forma de representar o que ela vivenciou e descobriu. Essa linguagem é simbólica, constituindo uma ferramenta que pode favorecer, no devido tempo, a capacidade de generalizar e abstrair.

 

A importância da representação espontânea

A representação faz parte do processo de aprendizagem e da construção do conhecimento. Ela é uma maneira de documentar vivencias e trajetórias de aprendizagem de cada criança, as quais, desde que sejam pessoais e espontâneas, estimulam muito a criatividade e a imaginação.

As representações espontâneas oferecem ao professor uma amostragem de como cada criança esta sentindo o que viveu, do que foi significativo e marcante. Os desenhos são um canal de expressão pessoal e único. Os diferentes registros das crianças podem ser expostos ao grupo para que sejam conhecidos por todos.

Educar é estimular descobertas. Cada de humano tem o direito de se sentir capaz de alcançar, por si mesmo, tudo que desejar ser, fazer e criar. Mas isso só será possível se ele acreditar em si mesmo. Jamais ensine a uma pessoa algo que ela pode aprender ou criar sozinha.

Sugestões de atividade

Atividades e jogos o significado, a concretude, a visualização, a percepção e a compreensão necessários para o desenvolvimento das habilidades numéricas, lembrando que a aprendizagem ocorre de forma espiral, pois cada novo momento possibilita uma compreensão e uma organização conceitual diferentes.

 

Gincana do nome do grupo – classificação – coletiva

Forme dois ou três grupos com base em características comuns, de modo que quem estiver em um grupo não possa estar no outro, sem dizer por que os está agrupando daquela forma. A tarefa da brincadeira é descobrir por que as crianças estão agrupadas assim. Os componentes de cada grupo devem conversar baixinho para não dar pistas aos outros grupos. Sugestões de classificação: meninos e meninas, características em sua roupa, com óculos e sem óculos, tipo ou cor do calçado, cabelo solto ou não etc. a partir do momento em que compreenderem a brincadeira, elas mesmas podem inventar formas de se agrupar para que os colegas descubram.

Objetivos: desenvolver a percepção e atenção para encontrar os atributos comuns utilizado na classificação;  estimular a capacidade de dar nomes aos grupos.

Representação: coletiva – desenhar um cartaz em que explique como os grupos foram classificados.

 

Qual o meu lugar – seriação  - coletiva

Proponha que as crianças encontrem uma maneira de se organizar considerando o comprimento dos cabelos. Solução: forme um única fileira com as crianças começando pela que tem cabelo mais curto até a que tem o cabelo mais comprido. O uso de um espelho será útil para proporcionar a autopercepção. Outras formas de seriação corporal: altura:, tonalidade do cabelo.

Objetivos: construir o conceito de seriação; estimular a compreensão de que cada elemento só ocupa um único lugar na série.

Representação: cartaz coletivo com o desenho de uma das formações realizadas.

 

Brincar de arrumação – classificação – em grupos

Cada aluno traz a escola cinco ou mais objetos diferentes (não cortantes), como embalagens vazias e limpas, tampas, fitas, tecidos, revistas, livros, discos velhos, brinquedos, peças de jogos, chaveiros etc.

Pegue uma quantidade de materiais variados e classifique-os. Os alunos deverão descobrir qual foi o critério de classificação e dar um nome para cada grupo. Quando finalmente tiverem compreendido a brincadeira, reúna as crianças em pequenos grupos, com uma certa quantidade de materiais, para que inventem outras formas de classificação. Depois cada grupo desafia os outros a descobrir  como arrumou o material.

Objetivos: classificar, desenvolver a habilidade de perceber diferenças

Representação: desenhos espontâneos das atividades realizadas.

 

Qual é o lugar de cada coisa em uma fila – seriação

Selecionar entre os matérias já coletados, quais são adequados e propor que sejam ordenados tomando como referencia o atributo escolhido. Sugestões de atributos: seriar objetos pelo tamanho, largura, espessura, peso, comprimento etc.

Objetivos: estimular a habilidade de seriar, a percepção e a atenção.

Representação: criar formas de expressar as vivências e descobertas.

 

Quem tem mais? – em dupla

Material para a dupla: um dado marcando 1e2 – cobrir um dado comum com fita crepe e marcar com uma bolinha em 3 faces e  duas bolinhas nas outras 3 faces -, uma bandeja e 15 palitos de sorvete. Cada jogador lança o dado na sua vez e pega tantos palitos quantos ele indicar. Diz, após cada jogada, a quantidade que já conseguiu. O jogo acaba quando acabarem os palitos. Para descobrir quem ganhou o jogo, fazem correspondência um a um entre a quantidade de palitos dos jogadores.

Objetivos: comparar e estimular adições de pequenas quantidades; construir o numero cardinal.

Representação: cada criança faz uma colagem com os palitos que ganhou.

 

Comentários

Essas sugestões são algumas das atividades que podem ser desenvolvidas para a construção dos conceitos apresentados neste livro. Você reconhecerá  o valor e a importância de trabalhar a construção dos conceitos por meio de vivencias significativas e divertidas no dia em que vir a carinhas sorridentes e os olhinhos brilhantes das crianças que compreendem o que estão fazendo e, ao mesmo tempo, estão brincando e se divertindo. Que é como, aliás, toda criança deveria aprender!

 

Bibliografia

 

RAMOS Luiza Faraco, Conversas sobre numeros, açoes e operaçoes, São Paulo / Ática 2009. Pg 32